1. |
SIOUX
01:49
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*O ar é turvo na tenda*
Bocas de fogo suam
por espíritos que ocupam espaço para 50.
Blocos de pedra decorados e buracos na terra,
para que um dia se colham pessoas como fruta da época.
Teme-se a seca e nunca o medo em si próprio,
- não há prazer sem ópio -
*Vão cuidando de nós com visão caleidoscópio.*
A cada trago deste cachimbo mora a apneia de estar sóbrio.
...
A cal na minha cara reproduz as asas d'águia,
para que eu traga a sua bravura para o futuro.
Vou vender a vida cara numa batalha gloriosa ao sol posto,
uma morte sem dor e a face em doce musgo.
Até já ouço o canto litúrgico:
Carpideiras da tribo esboçam um pranto pouco lúcido.
O meu corpo é trazido por guerreiros de olhar murcho
como as flores que me vão cobrindo exangue e sujo.
(exangue e sujo)
*Suo em bica enquanto caio do oculto.
Os meus olhos reviram-se, fica escuro.
Formigueiros iluminam-me em tom brusco.
Acordo do meu transe,
Num impulso,*
Estou nos braços
Dos anciãos e sou adulto.
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2. |
QUALQUER PEDRA
01:46
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*Dez dedos na mão.
Dez dedos são nove na mão.
Dez dedos são nove na mão.
Em decomposição. (2x)*
Menos um para ostentação,
roupa espalhada no chão.
Se o espelho se parte,
sete anos de azar,
É superstição?
(Ou será que não?)
Trabalho à légua
na imensidão do espaço,
ou seja, trabalho à lêndea
e os meus carimbos são letras.
Cada estrofe é um litro de bagaço,
rimo
com o estômago inchado.
Sorriso às covas,
engulo supernovas
e acuso o cansaço.
*Borboletas, sobe tensão.*
Vou morrer, olha a dormência
no meu braço a subir
para o coração.
Dez dedos na mão.
Dez dedos são nove na mão.
Dez dedos são nove na mão.
Em decomposição.
Menos um para ostentação.
Menos um pós-tentação.
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3. |
DOGEZA
01:46
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Nesta cama onde me deito, cavo a cova, copo a copo até sentir ar rarefeito.
O meu nome, sujei-o.
Eu não faço egotrips, crio odes ao desrespeito. auto-retratos impulsivos a que me sujeito... -
Somos todos actores de método,
seja conversa ou sexo,
olhares trocados no metro,
até que ideias sejam incesto
e saiam em verso.
Ratos de laboratório em sufoco,
testamos os venenos uns nos outros
e encontrar alguém imune
leva tempo e leva esforço.
(hrrm)
"Estava só a precisar de um
copo d’água.
Eu não trago laços,
eu cravo mágoa.
Abre a tua porta,
esta lata de conserva
deita azeite e os moluscos
dentro dela são impulsos do
Armaggedon.
Sempre em arpeggio,
é mau presságio,
o meu fado é sádico,
liquido gástrico,
mudar é tédio.
*Nunca hei-de chegar a velho,
morro cedo e reencarno num escaravelho.*
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4. |
SIDDHARTHA
02:00
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"Olá Siddhartha,
porque é que a chave roda até que o pulso parta?"
- E o puto, munido de impulso, catapulta o seu luto contra a casa. -
"A razão desta consulta é tão brusca como básica: faltou-me golpe d'asa."
Sento-me na poltrona com a minha candura nas mãos:
"então convence-me de que o caos é uma escada."
- De peito exposto, nunca vou dizer que não, -
*dás-me amuletos de papel para comprar sorte na farmácia.*
*Ingratidão nas minhas pálpebras*
Exercício que me ditas:
"ser feliz com as grilhetas que no meu corpo estão escritas."
Tomas nota e não explicas e eu não processo o mundo
à velocidade com que codificas cada segundo.
E basta não insistir muito *mostro-te o leque de dogmas
que vou escrevendo para mim próprio num murmúrio.*
Engulo a labuta e vou olhando para o futuro
como se a ponte que nos separa fosse curta e visse o fundo.
Crescem as vertigens desta luta, agarro-me às mentiras que a permutam,
*tropeço com falta d'açúcar.*
E tudo o que é bom custa, mas sem luz ao fim do túnel toda a coragem se esfuma.
!
Por isso, Siddhartha,
conta-me novamente como ser adulto basta.
E insulta-me a inteligência, expõe-me a estupidez na praça.
Educa-me na ciência da dosagem exagerada.
O monóxido também mata, só me falta ter a carta.
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5. |
TERROR
01:55
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São 24 horas
reivindico 4 euros
na conta bancária,
*assalto.*
Acordo sempre em sobressalto.
3º andar está tão alto
que as vertigens não se calam,
sonham de ir contra basalto.
São 24 horas,
o tempo é medida, constructo
assumido do lucro,
feitiços em loop
até me sentir inútil.
carne embalsamada e fútil.
São 24 horas, o queixo
esqueceu-se - desleixo -
que não tinha peixe na boca,
Imaginação de uma despensa cheia,
são 10000 facturas
e renda em Lisboa.
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6. |
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(Isto é ORGÂNICO URBANO)
Deita-me lento nas lagoas que este cérebro nunca viu.
Cresce-me ódio das pessoas, homem-copo-meio-vazio.
Esses mitos que apregoas são mais cândidos do que eu.
Encontra-me à tona de uma poça em pleno Abril.
E este rio vai dar a mágoa - Nada, nada, nada.
Eu sei que ser daqui é procurar
e nunca estar satisfeito com a cama onde me deito,
mas até a alma se corta se usas facas de diamante.
Esta dor é lancinante e não vai embora.
Malditos sacos de esporra -
Na verdade todos nascemos embalados pelo Eduardo Mãos de Tesoura. -
Onde está o teu deus agora?
No meu quarto é só a parede branca que olha de volta.
Isto só pode ser engano:
vejo o caos em cada esquina deste pesadelo urbano,
tão orgânico como o rímel de uma lua extravagante que nos pisca o olho em dano.
que nos pisca o olho em dano.
Se calhar é mesmo isso, o nosso erro é ser humano,
E saber o suficiente para que o suficiente engane,
E o verdadeiro objectivo esteja longe do alcance.
Tão longe do alcance.
E este rio vai dar a mágoa,
mágoa,
nada,
nada.
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ELÓI Porto, Portugal
Hip-Hop/Rap beats producer from Vila Nova de Gaia/
Porto/Portugal
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